Crônicas do Paraíba #5 - Anjo caído (pt 3)

Posted: sábado, 26 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
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Leo. Meu ex-quase-namorado.


Ele era o próximo.

Meus Deus, como foi que eu me meti nisso?

De uma hora pra outra eu tô no meio de um seriado policial. Um seriado policial ruim.

Não dá pra reclamar agora. Agora já estamos aqui.

Respiro, conto até dez. Eu tenho tempo. Afinal, Miguel nunca iria saber que eu sabia que era ele. Querendo ou não, eu fui muito rápida. Só se passaram...

MEU DEUS!

Já fazem 6 horas desde o enterro!

Quanto tempo eu fiquei aqui? Nem notei.

Tenho que correr, Leo pode estar em perigo.

Já estava quase saindo de casa quando me lembrei de ligar a TV. Se ele tivesse morrido, teria sido noticiado.

Nada. Em nenhum telejornal.

Hora de correr.

O apartamento de Leo ficava nem muito perto, nem muito longe do meu. Mesma avenida, mesmo bairro. Mas, como era uma avenida grande, era levemente distante.

Chego suada de tanto correr em frente ao prédio. O porteiro, Adoniram, ficou amigo meu da época em que namoramos.

-Boa tarde seu Adoniram!
-Boa tarde livinha, quer ver o Leo?
-Quero sim, muito obrigado!

Ele me deixa entrar no prédio e começa a interfonar, pra pedir autorização de passe pro morador. 30 segundos. 45 segundos. 1 minuto. Ninguém atende.

-Ele não está?
-Está sim, eu ví ele entrando e não vi ele saíndo. E estou aqui o turno inteiro.

Persistente ele interfona mais umas cinco vezes e desiste. Um frio sobe pela minha nuca.

-Olha...ele deve estar domindo ou coisa assim.

Eu sabia que era o fim da linha.

-Tudo bem seu Adoniram. Tudo bem.
-Era muito importante?
-Demais. Mais do que eu poderia te contar.

Ele pensa um pouco. Na certa está deduzindo que é alguma bobagem adolescente que era importante pra mim e não para ele.

-Olha...eu te conheço a um tempinho, e a mãe del gosta de ti...sobe livinha, sobe.
-OBRIGADO SEU ADONIRAM!

Disse isso em um abraço rápido no simpático idoso e passei correndo. Apertei o sexto andar no elevador. Que demora.

A porta do apartamento do Leo ficava sempre aberta. Isso aumentava ainda mais o meu medo.

Abri a porta. Gritei o nome dele. Procurei em cada cômodo, em cada lugar.

Ele não estava lá. Seu Adoniram era velho, devia ter se confundido. Isso era bem possível de ter acontecido. Agora eu tinha que achá-lo, custe o que custar.

Mas antes, notei uma coisa. O antigo roupeiro de Leo estava lá. Eu dei pra ele uma camisa, muito bonita, a um tempo atrás. Era a única coisa que ele guardava do nosso relacionamento.

No impulso abri o guarda-roupa para conferir se a peça ainda estava lá. Mas quando abri, preferi nunca ter feito isso.

Leo estava lá, ou pelo menos metade dele. Seu corpo, da cintura para baixo, havia desaparecido. A outra metade estava lá, em meio a um mar de sangue rubro vivo.

Enojada, eu chorei. Miguel tinha matado Marcus. Miguel tinha matado Leo. E todos esses crimes foram em poucas horas de diferença. A próxima seria eu. Talvez ele já estivesse lá, me esperando para dar o bote.

O que eu podia fazer? Quem sabe ele não estava certo. Quem sabe o mundo era injusto e cruel e pessoas como Miguel tinham o direito de se vingar.

Não!

O mundo pode ser cruel, mas o que três jovens apaixonados tem com isso? Existiam muitas outras maneiras dele ter se vingado do mundo, ao invéz de começar um surto homicida intenso que iria culminar em uma prisão dele.

A raiva limpou minhas lágrimas e clareou minha mente. Eu não ia morrer. Eu não podia morrer. Eu ia fugir e ia sobreviver. Não ia terminar como...
Espera.

Tem alguma coisa no corpo do Leo.

Era como...uma carta, um envelope pardo que eu nem tinha percebido no choque.

Com muito cuidado para não tocar no sangue, peguei o envelope.

Dentro, havia a mesma inscrição que foi encontraram na sala de Marcus, só que agora estava escrita a caneta. Lúcifer.

E uma letra de música. "Sympathy for the Devil", dos Rolling Stones. A letra falava sobre os feitos do diabo na história da humanidade e descrevia o próprio como um homem de bom gosto de estilo.

Miguel dava sua garantia. Se eu não tinha feito a conexão antes deveria fazer agora. Ele queria realmente que eu soubesse que Lúcifer era Miguel.

E os Rolling Stones eram a banda predileta dele.

Outro pensamento me veio a cabeça. Eu estava na cena do crime. O porteiro não viu a entrada nem a saída de de Miguel. Eu seria a primeira suspeita.

A perícia ia conferir minha vida em relação a de Leo. Ia ver que ele me dispensou. Ia ver que eu fiquei magoada com isso. Seu Adoniram testemunharia, quem sabe até seria punido por me deixar entrar.

Meu Deus. E se tudo isso fosse uma plano de Lúcifer? Se a grande vingança dele fosse me por na cadeia, como um grand finale macabro?

Agora não era mais um duelo por minha vida. Era um duelo por minha liberdade.

E eu daria tudo por ela.

(continua. adios e comemorem antis)



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