A mulher mais linda de todo o universo.

Posted: terça-feira, 3 de setembro de 2013 by Paraíba in
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Se vocês prestarem atenção, verão ele ali sentado no sofá da vida.
Tem vários nomes, mas o costume padrão é chamá-lo de Idiota.
Está lá sentado nos confins do mundo falando
Com a mulher mais linda de todo o universo.

Por falar em universo, em um ponto distantes da história,
Uma senhora de idade compra doces para
Agradar os netos que a visitam de má vontade.

Idiota, preso em sua própria concepção de tragédia
Que vem atrelada a uma sequência bem grande de amores não correspondidos
(E um correspondido que não deu certo por questões particulares)
Elogia a dama se esquecendo que ela mesma, não importando a beleza,
É uma bípede de sua mesma espécie, logo também ama que a sua vida
Seja uma odisseia.

Em outro ponto igualmente distante desse universo,
Mas não igualmente distante a ponto da senhora aparecer aqui,
Um maquinista tenta convencer um suicida a sair dos trilhos
Para que a vida (a do suicida, a do maquinista e a de uma borboleta que ali passava)
Siga normalmente.

Idiota continua abrindo o seu coração, mas não pode evitar.
Ela é a mulher mais linda de todo o universo, seu próprio existir
Gera um choque de galáxias tão grande que a culpam da maioria das equações
Cientificas que não deram certo.
Ela é tão linda por dentro e por fora que esse clichê já não se aplica, já que
A própria arrogância inútil de chamar algo de clichê não se aplica a ela.

Claro que Idiota falou tudo isso para ela e ainda mais um pouco,
O suficiente para que a sua já esfrangalhada auto estima encontre
Mais alguns adjetivos negativos para a descrição pessoal.
Ele a perdeu pela assexualização triste que é o amor.

Este poeta que vos escreve espera, formalmente
Que um dia na rodovia do infinito,
A velha desprezada, o idiota mal amado
E o maquinista que salvou uma vida
Se encontrem e possam, enfim,
Sonhar com o futuro.

Tem um pedaço de metal retorcido na mesa de cabeceira.

Posted: domingo, 21 de julho de 2013 by Paraíba in
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Tem um grito feminista ecoando na rua,
Uma poça de sangue,
Uma poça de violência traduzida em decibéis.
A cada Maria que vira Maria Fumaça por um golpe de cachaça,
A cada virilidade transformada em socos,
Seguem os gritos e os decibéis em fusão com o asfalto.

Tem uma flor de cor indefinível nascendo na esquina,
Eu não sei seu cheiro nem seu nome cientifico,
Esqueço até da sujeira da viela em que ela brota, tão mansa.
Um dia descubro quem ela é.
No momento, só limpo a viela.

Tem um computador mudo digitando socorro,
Ele sabe que existe, mas precisa que o resto saiba.
Precisa achar seus irmãos, aqueles que foram para a reciclagem.
Ele quer a salvação e a dor no direito de ser gente.
Quer fugir dessa vontade de aparecer, desses rótulos
Desses vendedores de lojas de eletrônicos.
Ele quer escrever poesia.

Tem um pedaço de metal retorcido na mesa de cabeceira,
Ao lado da garrafa de água meio cheia, pois bebi durante a noite,
À direita de uma bíblia fechada há anos, e quase escondido
Pelo comprimido para ressaca que comprei sábado passado e
Que acabei não usando, pois, se usasse, esse texto não existiria.
(e as pessoas não encontrariam motivos para nascer e matar nele).
Tem um descongestionante nasal ali também.

Tem uma moça bonita do outro lado da rua.
Ela pode se casar comigo amanhã e sustentar esse sonho (quase inconsciente)
De dividir o meu comprismo burguês com outra, possível, infeliz.
Ela pode ser uma massa de carbono intolerante que lê asteriscos do passado
De cada cidadão mimado o suficiente para romper as amarras do valor social
E adotar um nome sem telefone.
Ou ela pode escrever poesia como o computador queria escrever.
Deixo ela do outro lado da rua.

Tem uma luta no asfalto, na viela suja, na loja de eletrônicos, do outro lado da rua.
Na minha mesa de cabeceira.
Tem uma luta que nasce como a Estrela Dalva perante a escuridão dos dias,
Uma luta que pretende lutar pela mesma maneira que se muda de opinião,
Pela mesma maneira que se tem mania de perseguição,
Pela mesma maneira que é justo lutar.
É a luta do fim dos dias, é a luta da metalinguagem.
É a luta onde todos os nomes e todos os telefones serão apagados e trocados
Pelas lições tribais de nossas artérias.
A luta continua.

Free Rainer: a arrogância do "intelectualismo revolucionário".

Posted: terça-feira, 25 de junho de 2013 by Paraíba in
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            Em 2007, o diretor austríaco Hans Weingarther (imagine este que vos escreve lendo isso com um sotaque que faria os alemães declararem a terceira grande guerra) apostaria de novo no tema do controle e das liberdades, como em seu sucesso Edukators, do início da década. Em Free Rainer, temos uma premissa um tanto quanto paranóica: um famoso produtor de uma grande emissora de TV alemã (o Rainer do título) sofre uma batida por parte de Pegah, que perdeu seu avô devido a calúnias do canal de Rainer. Durante o coma, o protagonista tem um lapso de consciência e percebe: estamos fazendo algo de errado, a televisão deve ser realmente mais instrutiva. Então Raineir, Pegah e mais um grupo de desajustados (e o diretor faz questão de repetir isso na nossa cara) passam a tentar modificar o sistema de audiências, onde poucos representam o que muitos acabam vendo por modismo.
A premissa é interessante, realmente. Não por ser inovadora. Lapsos de moralidade perante a um sistema falho são extremamente comuns em ficções cientificas. Tanto elas, quanto a famigerada Síndrome de Frankenstein (esta última encontrando o seu fim no escritor russo Isaac Asimov), circulariam por anos na literatura e no cinema, gerando clássicos como Admirável mundo novo de Aldous Huxley, A máquina do tempo de H.G Wells e 1984 de George Orwell. O brilho da premissa vem dessa distopia se encontrar em nosso tempo, tornando o momento de despertar do produtor ser aplicável a todos nós. Somos REALMENTE vítimas da programação de TV atual. Não é uma imaginação, nem uma fantasia.
O problema é a maneira como o diretor trata desse lapso. Enquanto em 1984, por exemplo, temos toda uma construção de personagem e de universo que permitem com que a personagem sinta dúvida. É um vazamento de uma pressão desumana, uma construção de personagem necessária para uma mudança assim. E isso nem é fruto do maior espaço dado à linguagem literária – a adaptação da obra de Orwell (dirigida por Michael Radford e lançada ironicamente no ano e dá título à obra) também nos dá muito mais motivo para crer na repentina correção de opinião, que gerariam as ações posteriores.                 
As próprias ações em si, são um problema, por serem vazias em conteúdo e questionamento. Eu, em minhas elucubrações, me coloquei na cadeira do roteirista e me imaginei fazendo praticamente tudo diferente depois do insight de consciência, já criticado no parágrafo abaixo. Enquanto eu imaginava que a luta de Rainer e seus amiguinhos (no maior estilo Sessão da Tarde) ia ser por uma verdadeira democratização, mostrar ao povo alemão que o sistema de audiências é falho e os leva a assistir certo tipo de programação, a trama escolhe o caminho da obviedade. Em uma aventura super radical (olha a Sessão de novo), eles começam um esquema de adulterar o sistema para programas ditos “intelectuais” terem maior audiência, levando os teutônicos a assistirem filmes Cult, documentários e entrevistas com escritores no lugar de reality shows.
Essa ideia soa elitista e conservadora. Aqui no Brasil, quando muitos criticaram os antigos tropicalistas por se apropriarem de uma ideia de “cultura popular” e hoje passarem a imagem de intelectuais da elite, parece que surtiu efeito. Em seu último álbum, Caetano Veloso nos brinda com o seu “Funk Melódico”, que não deixa nada a desejar as outras canções da produção. Será que a verdadeira intelectualidade está presa a conceitos que nos afastem o máximo possível do que todos gostam? Será que é um sinônimo de pensar diferente da maioria? Prefiro acreditar que não.
           E no terceiro e último ponto negativo, temos a maldita mudança no ritmo da história, uma mudança brusca, mas, infelizmente, não voltada para a agitação. Depois do surto catártico que Rainer tem no seu coma, a história praticamente rasteja perante o espectador. Até a fotografia (que antes assumia tons em um azul mais escuro, que encontram o seu apogeu na cena do sonho) torna-se amarelada ou bege, típica de filmes mais leves como comédias românticas. Até um romance entre a Pegah e Rainer (!!) acontece, incluindo a cena que mais descreve o quanto o filme perde o ritmo: um dos desajustados amigos de Rainer caindo da escada, em um momento de fazer Renato Aragão ter inveja. Não é algo errado mudar de ritmo, o meste Hitchcock fez isso com perfeição em seu clássico Psicose, mas isso foi um processo completamente revolucionário de simplesmente mudar o FOCO da história, como se ela estivesse sendo reescrita. Já aqui, vemos a mesma história, só que sem fôlego, como se não conseguisse sustentar a si mesma.
           O filme tem pontos positivos. O elenco está, no geral, muito bem (única exceção que eu faço é a Gregor Bloeb, que faz um vilão caricato ao extremo). E, o maior mérito, vem, talvez, de existir, nesse momento, no seu lugar geográfico. É bom ver que cineastas jovens como Weigarther ainda se preocupam em fazer cinema europeu autoral e atual, sem se preocupar com a necessidade de se vender a Hollywood ou (surpreendentemente mais comum) plastificar-se a ponto de parecer vintage, ressuscitando os sucessos e as estéticas da Europa passada. Esse mal está se generalizando, mas encontra seu foco principalmente na França, com filmes como “A datilógrafa” de Régis Roinsard e o premiado “O Artista” de Michel Hazanavicius. Nesse aspecto, para fomentar a histórica rivalidade, os alemães venceram a guerra. 

Nota: 5,5

Ampulheta

Posted: sexta-feira, 14 de junho de 2013 by Paraíba in
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Escavo meus ossos, minha alma
Sou um arqueólogo do próprio ser.
Tenho a necessidade, quase viciante,
De explorar, descobrir aspectos do eu.
E cada vez mais me decepciono com
As colunas dessa cidade (não eterna)
Que se desmanchou em meu espectro.

-Estou no passado.

Sou uma Pompéia, quebrando a minha essência.
Sou a atualização constante, a vontade de ser.
Sou o filho sem pai e o pai sem filho.
Sou o eterno mendigo de heranças.
Sou o eterno mendigo de herdeiros.
Sou o que diz: "Eu quero um legado! Eu quero! Eu quero!"
Sou também o que leu a morte dessa palavra, querer.

-Estou no presente.

Olho a minha janela e vejo carros voadores.
É o futuro sonhado, a arquitetura do que tivemos.
O futuro pertence ao passado. É fruto
Da imaginação fértil dos leitores, dos ouvintes,
Dos onanistas sociais.
O futuro é o caos. A destruição de
Todas as hipóteses, todos os estudos.
É a ciência de queimar teses.

-Estou no vazio.

Se eu fosse você, gostaria de ser chamado de "baby".

Posted: quarta-feira, 5 de junho de 2013 by Paraíba in
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O título é bom, mas e o poema? Onde está?
Aliás, por que tudo é título nessa vida já não muito feliz,
E não nota de rodapé?
O que tem no negrito não é menos palavra
                                                               do que o que tem o asterisco.]

O poeta é um crítico.
Ele é um excluidor natural.
Separando, filtrando, escolhendo.
Definindo.

O poeta é um ladrão.
Ele rouba a palavra e usa como quer, sem critério.
Tomando, furtando, esgueirando.
Raptando.

Aproveitando o espaço, que não foi dos melhores,
Gostaria de dizer que se eu fosse você,
Seria a epígrafe mais bonita,
Do poema mais sujo.

As aventuras do Capitão Errado e seus grandes companheiros.

Posted: sábado, 20 de abril de 2013 by Paraíba in
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A vida não é vida se a gente não engorda.
A vida não é vida se a gente não grita.
A vida não é vida se a gente não interrompe.
A vida não é vida se a gente não empobrece.
A vida não é vida se a gente não luta.
A vida não é vida se a gente não morre.

A vida não é vida se a gente não erra.
Mas a vida é vida se a gente não acerta.
Não se vive pelo acerto.
Mas se morre, e não ecoa.
E não escoa.

E a eternidade perde um bom errador.

Vocal.

Posted: domingo, 14 de abril de 2013 by Paraíba in
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O grito é diferente, depende
para quem, para que. Para quando.
A traqueia, a corda, a raiva.
A voz que tenta freneticamente ser estrela, ator.
E por, justapor, frutacor:
VER-ME-LHO.
Aquele que berra não precisa ouvir,
nem aprender.
No meio da confusão de ondas sonoras,
Multilaterais, incríveis, adjetivas, virguladas.
Encontrei-me com um nome, um RG e um telefone.
Mesmo sem pertencer à dita cuja humanidade.