Crônicas do Paraíba #5 - Anjo caído (pt 3)

Posted: sábado, 26 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
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Leo. Meu ex-quase-namorado.


Ele era o próximo.

Meus Deus, como foi que eu me meti nisso?

De uma hora pra outra eu tô no meio de um seriado policial. Um seriado policial ruim.

Não dá pra reclamar agora. Agora já estamos aqui.

Respiro, conto até dez. Eu tenho tempo. Afinal, Miguel nunca iria saber que eu sabia que era ele. Querendo ou não, eu fui muito rápida. Só se passaram...

MEU DEUS!

Já fazem 6 horas desde o enterro!

Quanto tempo eu fiquei aqui? Nem notei.

Tenho que correr, Leo pode estar em perigo.

Já estava quase saindo de casa quando me lembrei de ligar a TV. Se ele tivesse morrido, teria sido noticiado.

Nada. Em nenhum telejornal.

Hora de correr.

O apartamento de Leo ficava nem muito perto, nem muito longe do meu. Mesma avenida, mesmo bairro. Mas, como era uma avenida grande, era levemente distante.

Chego suada de tanto correr em frente ao prédio. O porteiro, Adoniram, ficou amigo meu da época em que namoramos.

-Boa tarde seu Adoniram!
-Boa tarde livinha, quer ver o Leo?
-Quero sim, muito obrigado!

Ele me deixa entrar no prédio e começa a interfonar, pra pedir autorização de passe pro morador. 30 segundos. 45 segundos. 1 minuto. Ninguém atende.

-Ele não está?
-Está sim, eu ví ele entrando e não vi ele saíndo. E estou aqui o turno inteiro.

Persistente ele interfona mais umas cinco vezes e desiste. Um frio sobe pela minha nuca.

-Olha...ele deve estar domindo ou coisa assim.

Eu sabia que era o fim da linha.

-Tudo bem seu Adoniram. Tudo bem.
-Era muito importante?
-Demais. Mais do que eu poderia te contar.

Ele pensa um pouco. Na certa está deduzindo que é alguma bobagem adolescente que era importante pra mim e não para ele.

-Olha...eu te conheço a um tempinho, e a mãe del gosta de ti...sobe livinha, sobe.
-OBRIGADO SEU ADONIRAM!

Disse isso em um abraço rápido no simpático idoso e passei correndo. Apertei o sexto andar no elevador. Que demora.

A porta do apartamento do Leo ficava sempre aberta. Isso aumentava ainda mais o meu medo.

Abri a porta. Gritei o nome dele. Procurei em cada cômodo, em cada lugar.

Ele não estava lá. Seu Adoniram era velho, devia ter se confundido. Isso era bem possível de ter acontecido. Agora eu tinha que achá-lo, custe o que custar.

Mas antes, notei uma coisa. O antigo roupeiro de Leo estava lá. Eu dei pra ele uma camisa, muito bonita, a um tempo atrás. Era a única coisa que ele guardava do nosso relacionamento.

No impulso abri o guarda-roupa para conferir se a peça ainda estava lá. Mas quando abri, preferi nunca ter feito isso.

Leo estava lá, ou pelo menos metade dele. Seu corpo, da cintura para baixo, havia desaparecido. A outra metade estava lá, em meio a um mar de sangue rubro vivo.

Enojada, eu chorei. Miguel tinha matado Marcus. Miguel tinha matado Leo. E todos esses crimes foram em poucas horas de diferença. A próxima seria eu. Talvez ele já estivesse lá, me esperando para dar o bote.

O que eu podia fazer? Quem sabe ele não estava certo. Quem sabe o mundo era injusto e cruel e pessoas como Miguel tinham o direito de se vingar.

Não!

O mundo pode ser cruel, mas o que três jovens apaixonados tem com isso? Existiam muitas outras maneiras dele ter se vingado do mundo, ao invéz de começar um surto homicida intenso que iria culminar em uma prisão dele.

A raiva limpou minhas lágrimas e clareou minha mente. Eu não ia morrer. Eu não podia morrer. Eu ia fugir e ia sobreviver. Não ia terminar como...
Espera.

Tem alguma coisa no corpo do Leo.

Era como...uma carta, um envelope pardo que eu nem tinha percebido no choque.

Com muito cuidado para não tocar no sangue, peguei o envelope.

Dentro, havia a mesma inscrição que foi encontraram na sala de Marcus, só que agora estava escrita a caneta. Lúcifer.

E uma letra de música. "Sympathy for the Devil", dos Rolling Stones. A letra falava sobre os feitos do diabo na história da humanidade e descrevia o próprio como um homem de bom gosto de estilo.

Miguel dava sua garantia. Se eu não tinha feito a conexão antes deveria fazer agora. Ele queria realmente que eu soubesse que Lúcifer era Miguel.

E os Rolling Stones eram a banda predileta dele.

Outro pensamento me veio a cabeça. Eu estava na cena do crime. O porteiro não viu a entrada nem a saída de de Miguel. Eu seria a primeira suspeita.

A perícia ia conferir minha vida em relação a de Leo. Ia ver que ele me dispensou. Ia ver que eu fiquei magoada com isso. Seu Adoniram testemunharia, quem sabe até seria punido por me deixar entrar.

Meu Deus. E se tudo isso fosse uma plano de Lúcifer? Se a grande vingança dele fosse me por na cadeia, como um grand finale macabro?

Agora não era mais um duelo por minha vida. Era um duelo por minha liberdade.

E eu daria tudo por ela.

(continua. adios e comemorem antis)



Crônicas do Paraíba #4 - Anjo Caído (pt. 2)

Posted: terça-feira, 22 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
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Não acredito nisso.


Marcus. O bonito. O inteligente. O invencível.

O morto.

Não pelo fato deu já ter ficado com ele, mas ele era bem amigo meu. Do tipo de ir almoçar em minha casa e vice-versa. Estava chocada, impressionada.

O telefone toca. É a Thânia, uma grande amiga minha, de infância. Nos conhecemos desde o maternal. Ela sempre estranhou o fato deu só ficar com guris mais velhos, como o Marcus por exemplo. Mas também era muito amiga dele. Quem não queria ser?

-Tu...viu o jornal? - disse ela em seu português coloquial.
- sim... chocada até agora.
-Sabe o Régis?
-Aquele que era o melhor amigo dele?
-Sim, tá em estado de choque, mas conseguiu me ligar. O enterro é amanhã. Vamos?

Claro que eu fui não é. Tive que ir.

Funeráis são momentos tensos em qualquer situação. Mas são ainda mais tensos se você não é membro da família. Você acompanha toda a dor e sofrimento da família da vítima, sem poder fazer muito para consolá-los, afinal você não tem nada haver com aquilo, pelo menos não de acordo com protocolos. Não sou escrava das aparências, mas protocolos tornam nossa vida mais fácil de lidar. E no fim, facilidade é o que todos querem.

Horas foram se passando. É impressionante como essas cosias passam mais rápido quando é alguém mais importante pra você. Nesse caso, é uma espécie de ex-melhor amigo. Um guri mais velho que eu fiquei, ficou rico e poderoso e nós nunca mais nos falamos. Isso.

Uma tia esquisitona dele se aproxima de nós dois. Já tinha ouvido falar dela. Drogada, várias vezes tinha passado por reabilitações. Era bem mais nova que a mãe do Marcus, tinha apenas uns 5 anos de diferença em relação a ele. Ela se aproximou de nós duas. Fiquei morta de medo, mas a curiosidade de Thânia venceu o meu anseio.

-Que horror, que horror...
-É mesmo terrível. -falou a intrometida Thânia.
-A morte? Não isso não é nada...o pior foi como mataram.
-Soube das...facadas - e baixou a voz para dizer a última palavra.
-Isso também não foi nada.

Agora até eu me aproximei curiosa.

-O pior foi o bilhete.
-Bilhete? Que bilhete?
-Vocês não viram os jornais de hoje? Só a notinha de ontem?

As duas responderam em negativa. O clima ia ficando cada vez mais tenso.

-O corpo foi encontrado desnudo, coberto de sangue pelo esfaqueamento. Em baixo tinha apenas uma folha de papel, com uma palavra escrita.
-E que...que palavra era essa?
-A palavra era "Lúcifer".

Aquela mulher falava tudo aquilo com um certo prazer doentio. Isso estava me enojando. Tive que sair dali.

Pesquisando na Internet, nos melhores sites de notícia do país, pude notar que ela estava certa. Realmente o bilhete havia sido encontrado. A imprensa, inclusive, citava esse como o possível pseudônimo do assassino.

Pessoas normais desligariam o PC. Ficariam tensas com a situação, mas uma hora passaria. A folha de papel representaria apenas um sinal de um crime hediondo. E só.

Mas eu não estava no meu estado normal. Um frio arrepiava minha nuca. Entrei em uma famosa enciclopédia virtual. Digitei "Lúcifer".

E a resposta me assustou.

"Segundo a Igreja católica, Lúcifer era o mais forte e o mais belo de todos os Querubins. Então, Deus lhe deu uma posição de destaque entre todos os seus auxiliares. Segundo a mesma, ele se tornou orgulhoso de seu poder, que não aceitava servir a uma criação de Deus, "O Homem", e revoltou-se contra Deus. O Arcanjo Miguel liderou as hostes de Deus na luta contra Lúcifer e suas legiões de anjos revoltosos; já os anjos leais a Deus o derrotaram e o expulsaram do céu, juntamente com seus seguidores. Desde então, o mundo vive esta guerra eterna entre Deus e o Diabo; de seu lado Lúcifer e suas legiões tentam corromper o homem; do outro lado Deus, os anjos, arcanjos, querubins e Santos travam batalhas diárias contra as forças de Lúcifer."


Lúcifer era um anjo bom. Se tornou mal e foi expulso por Miguel, se tornando um anjo caído.

Só isso me bastava. Miguel era um católico fervoroso, conhecia essa história de cor e salteado. Seu lado bom, seu lado angelical morreu, e ele renegou o seu nome, assumindo um que combinasse mais com os planos que ele podia estar bolando a meses, anos.

Miguel era o assassino. Miguel era Lúcifer.

E eu não estava mais a salvo.

(continua. adios e comemorem antis)


Crônicas do Paraíba #3 - Anjo caído. (pt.1)

Posted: sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
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Espero mesmo que tenham gostado de Fim da Linha, pois consumiu algumas horas de esforço e criatividade. Nossa próxima história tem alguns pontos de diferença em relação a última. Primeiro que usarei uma protagonista mulher, algo que será um desafio pra mim. Segundo que será uma história de amor, mas com um "quê" de suspense, algo mais mítico e crú que o outro conto. Boa leitura!

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"Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me."

Eu queria ter olhos assim, Mentira, adoro meus olhos azuis. Mas na verdade o que eu queria era alguém que reparasse em mim tão bem quanto o Dom Casmurro.

Estou adorando esse livro.

Sempre adorei livros, até livros como esse, que eu tenho que ler por obrigação para o colégio. A propósito, vocês nem me conhecem ainda.

Meu nome é Lívia, tenho 17 anos e estou no terceiro ano do ensino médio de uma escola católica. Não me considero bonita, mas também não me considero feia. Os guris não me acham feia e é isso o que importa no final. Não sou daquelas gurias que quer ficar bonita pra agradar outras gurias (ou melhor causar inveja) embora sinta um pouco de prazer feminino em fazer isso. Quem não sente?

Antes que pergunte, sim, eu estou solteira. Não que eu reclame disso, afinal nós adolescentes somos eternos solteiros. Mas, por ser uma pessoa um pouco mais lida que as outras da minha idade, não posso negar que me incomoda o fato de ninguém realmente gostar de mim, e sim só me usar como objeto por beleza. Eu já gostei de muitos guris, mas eles nunca quiseram nada sério. Isso incomoda, demais.

Já gostaram de mim uma vez. Sei que não é muito, mas gostar por gostar não é gostar. Pra se gostar mesmo tem que necessitar daquela pessoa, ver ela tem que ser algo indispensável, algo implacável em sua vida. Não pode simplesmente querer tê-la, tem que querer senti-la em todos os sentidos, desde o beijo até uma conversa banal. Tem que gostar das qualidades, e amar os defeitos. Muitas pessoas nunca tiveram alguém que realmente gostasse delas. Eu só tive um.

Miguel. Seu nome era Miguel.

Aconteceu no primeiro ano. Miguel era um daqueles rapazes legais, amigos de todos, mas a última pessoa que alguém iria esperar ficar. Não me levem a mal, não sou superficial. Nem ele era estupidamente feio. Mas, por algum motivo (talvez até científico) eu não me imaginava ficando com ele, simplesmente.

Acho, hoje, que subestimei o que ele sentia por mim. Pensava que era bobagem, que era passageiro. Gostava mesmo dele, mas como amigo, como um cara divertido que fazia os nossos dias cansativos em sala de aula passarem mais rápido. Nunca imaginei que duraria.

Mas durou, e muito. Quando já estávamos no final do ano, isso não passava e eu não sabia o que fazer. Durante esse período de mais ou menos 8 meses, fiquei com dois caras. O primeiro era o Marcus. Bonito, lindo, inteligente, um ano mais velho, o cara mais desejado no colégio. Pra mim ele era apenas um carinha legal que ficou comigo em uma festa e só. O problema é que o Miguel estava lá na festa, e eu soube que quem teve o azar de testemunhar a fúria dele desejou não ter visto.

O segundo foi o pior. Era o Lucas. Não era bem o melhor amigo do Miguel, mas os dois eram bem chegados. O Miguel amava rock, de todas as maneiras e o Lucas tocava quase todos os instrumentos. O interesse em comum os levava a várias horas de conversa sobre o assunto. Fiquei com o Lucas no colégio mesmo, e fomos ficando por um mês mais ou menos. Não rolou namoro só por que ele não quis.

Nesse período, o Miguel se trancafiou no quarto por dias a fio. Faltava montes de aula, não saía mais com os amigos, não queria mais nada nem ninguém. Eu me sentia culpada, mas o que podia fazer? Eu gostava mesmo do Lucas, e queria ficar com ele. Até hoje desconfio que o Lucas sentiu pena do Miguel e por isso não seguiu comigo. Isso me dá certa angústia.

O fato é que no fim das aulas, o Miguel sumiu. Nunca mais vi ele em lugar algum. Os amigos não conseguiam mais falar com ele. Telefone não atendia. Redes sociais foram deletadas. Ninguém mais viu ele em canto nenhum depois disso. Até o pai (a mãe dele tinha morrido no seu nascimento) não era mais visto. Ele sumiu das nossas vidas e, tivemos a infelicidade de reparar que sentimos sua falta.

Mas os anos se passaram e Miguel foi esquecido. Terminei de ler o capítulo do livro e resolvi parar de divagar um pouco. Vou ligar a televisão.

Jornal Nacional. Adoro ver notícias lidas por uma voz grossa. Parece que foi algo sério, vamos ver.

"Boa noite. No escritório regional da Petrobras, o engenheiro químico Marcus Laerte Vianna foi encontrado morto em cima de sua escrivaninha. A perícia informa que a provável causa de sua morte foi por esfaqueamente constante, devido as marcas encontradas em seu pescoço. As investigações seguem, embora nenhum suspeito tenha sido detectado. A empresa que cuidava da segurança do escritório informa que misteriosamente todas as câmeras do recinto falharam durante meia hora, ligando o alerta vermelho que aparentemente não atingiu o local do assassinato. Mais informações no Jornal da Manhã".

Engenheiro da Petrobras? Não era isso que o Marcus fazia? Vianna...SIM!

Era esse o sobrenome dele!

Alguma coisa muito estranha estava acontecendo. E o arrepio na minha nuca era inevitável.

(continua. Adios e comemorem antis)

Problema #2 - Sinceramente grossos.

Posted: quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
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Voltando a escrever (ou melhor, resmungar) sobre mais problemas crônicos dos dias de hoje (falar "dias de hoje" deixa a coisa mais moderna, mas eles não são necessariamente dos dias de hoje...aliás, eles não são necessariamente problemas...aliás por que eu fiz um parênteses tão grande?).


Hoje em dia, o "defeito da moda" é a falsidade. Todo mundo adora dizer que odeia falsidade. Desde ex-BBBs até estrelas da Playboy, todo mundo se diz sincera e honesta, e repudiam os que não são. O engraçado pra mim (que certamente não é nem um pouco engraçado pra você) é que mais da metade dessas pessoas são bonecos, ou melhor, os novos bonecos.

O que eu quero dizer com isso? Simples, antigamente, ser uma pessoa extremamente açucarada e boazinha era uma estereótipo, um padrão falso a ser seguido pelas pessoas.

Esses "bonecos" foram substituídos nos dias de hoje. As pessoas pensam que é legal serem pessoas que falam tudo "na lata" (amo gírias) , pessoas extremamente grosseiras que não se importam nem um milésimo com os sentimentos dos outros.

As causas são diversas. A juventude se libertou das correntes do passado, deixando os padrões antiquados em suas latas de lixo cerebrais. Assim, criaram um novo personagem, o do adolescente cool, mal-humorado e infeliz, ídolo indie e cult, que substitui muito bem as doçuras anteriores. Ou melhor, muito mal.

É frequente pessoas usando redes sociais para falar "verdades" grosseiras na cara das pessoas, fazendo uso de ironias em sua maioria sem graça para repudiar fatos do cotidiano. Resumindo, é uma desprezo pela humanidade justificado apenas por uma vontade enlouquecida de querer aparecer.

Ao condenar a falsidade e o excesso de doçura, esses neanderthais modernos criaram um novo estereótipo, um novo boneco a ser seguido. Um monte de Marcelos Dourados desfilando pela rua mostrando o quão "sinceros" eles são. O engraçado é que eles só não são sinceros
com eles mesmos.

Chega de personagens, chega de carapuças. Vivam o novo milênio como uma era de libertação, não de mais prisões. As bonequinhas açucaradas do século 20 irritavam a todos pelas suas falsidades, mas os novos brutamontes são de dar vergonha alheia. Sejam sinceros, sem ser grossos. Diplomacia e educação nunca é demais em tempos onde o Brasil se empolga mais para votar em um reality show do que em suas eleições presidenciais.

Se você é um pseudo-grosso, vai aqui a receita:

1-Chá de camomila
2-Encontros frequentes com o sexo oposto
3-Tentar ser tão grosseiro e "realista" consigo mesmo.

Ficaremos gratos. Eu e a humanidade.

Adios e comemorem antis.

Crônicas do Paraíba #2 - Fim da linha. (final)

Posted: terça-feira, 15 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
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Bagueteria Árabe.


Baguete não era francês?

Tá, dane-se, já passei por ela mesmo.

A cidade fede, tudo fede. Aquele mendigo fede, aquele barzinho fede, aquela dona de casa levando sacolas de super-mercado fede. Se duvidar, até eu estou fedendo.

Tenho que me concentrar, existem coisas pra fazer. Preciso chegar rápido na casa dela, e se eu demorar mais um pouco ela já terá saído. Preciso contar tudo para ela, por que senão tudo terá sido em vão.

Fico imaginando se eu perder. Se ela for pra praia antes de eu contar, serão bem uns 15 dias de agonia trancado no meu quarto de novo. Nesse meio tempo a mãe volta e a tortura será grande. Sem falara que até lá eu já terei perdido toda a minha coragem impulsiva que eu ganhei hoje.

Quanto mais eu saio do centro da cidade, mais tudo engrossa. O povo vai ganhando feições mais rudes, as casas vão se tornando mais feias, decadentes, todo o glamour (falso, por que pra mim nada nessa cidade é magnífico) do centro vai se tornando a dura realidade da periferia.

Nunca fiz o tipo de burguês metido, mas carrego preconceitos de sangue inegáveis. Estudo em colégio particular, meus pais tem bons empregos e tenho mais ou menos tudo o que quero. O mais estranho é olhar nesses bairros as pessoas se divertindo, brincando e...amando.

Eu daria toda a minha vida de luxos para te-la. Daria tudo, daria o mundo. Não é exagero, nunca fui tão obcecado por nada nessa vida como por ela. Mas o que eu posso fazer? Ela é mais bonita que eu. Mais inteligente que eu. Tudo melhor que eu.

Se isso fosse uma comédia romântica, tudo acabaria bem. Acho que o Ben Stiller me interpretaria e ela seria a Sandra Bullock. O final seria feliz com alguma piadinha sem graça nos pós-créditos. Mas isso é vida real. Vida real nem sempre acaba bem e nós todos temos que nos conformar com isso algum dia.

Estou chegando perto. Ela mora em uma estrada, no limite da cidade. Olho no relógio. Estou em cima da hora. Cheguei.

Meu Deus.

Ela está entrando no carro do pai, com uma amiga. O carro é um GMC vermelho, gigantesco, típico de fazendeiros grandes. Como ela é linda. Eu fico segundos, parecem séculos, observando o leve balançar de seus cabelos, o brilho de sua face perolada contrastando a lua. A amiga dela, uma guria gordinha e engraçada, acaba de contar uma piada. Isso me hipnotizou. A risada dela, o leve contrair elegante de músculos que revelam um sorriso. A mulher perfeita. A minha mulher. A mulher que eu amo.

Eu grito para chamar. Ela me olha surpresa, mas sem demonstrar desprezo por isso. A amiga que já estava no carro, sai correndo para ver o acontecimento. O pai aparentemente ainda não desceu do apartamento, pois ninguém saiu a parte reservada para motoristas do carro.

- Oi Cá...o que foi? Nós temos que sair agora, posso ajudar?
-É que...

Travei. Droga. Odeio quando isso acontece.

-Que?

Ela tá impaciente, o que eu faço? Não, não posso ter vindo até aqui, conseguido sair de casa pra não fazer nada. Não posso me dar a esse luxo.

-Eu sempre quis dizer isso, mas nunca reuni forças. Eu te amo. Eu te amo mais que tudo. Eu vim apé do centro até aqui só pra te dizer isso. Não saio de casa a séculos só pensando em você. Você pode estar tensa agora, eu sei, mas a verdade é que isso não importa, pro que agora você sabe. E eu estou livre.

Inesperadamente, ela me beijou. Não quero gastar muitas linhas com esse momento. Foi mágico, indescritível, irreal. Ela foi embora depois, sem promessas, com aquele beijo pra selar o fim de tudo. Aí ela se foi, me deixando ali, divagando sobre como a vida era bonita.

Voltei pra casa.

A cidade parece mais bonita agora.

FIM

Como seria bom se as coisas fossem simples assim.

Mas não são. Na vida, temos que lembrar que os outros também valem e nem sempre são os nossos finais que são felizes. Aliás, nada é final, pois tudo pode se continuar.

A verdade é que ela me deu um beijo no rosto e falou:

-Depois a gente conversa amigo.

A cidade não esta mais bonita. Eu não estava mais feliz. E meus problemas ainda não acabaram. Mas eu estava livre, finalmente.

E ia conseguir me olhar no espelho de agora em diante.

FIM.
Adios e comemorem antis.

Crônicas do Paraíba #1 - Fim da linha. (pt.1)

Posted: terça-feira, 8 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
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Além de analisar os problemas do nosso dia-a-dia, eu também curto escrever contos e crônicas de vez em quando, e resolvi pública-los aqui. Esta seção vai se chamar "Crônicas do Paraíba". Boa leitura e espero que gostem!

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Não aguento mais ver "O senhor dos Anéis" nessa porcaria de televisão.

Mas se bem que, tudo que passar nessa porcaria de TV a cabo plano simples vai ser melhor do que sair lá pra fora.

Quanto tempo faz mesmo? Quatro dias? Duas semanas? Um mês? Não consigo lembrar.

Não consigo lembrar da última vez que saí desse quarto.

Foi uma decisão difícil. Fazia sol nessa cidade maldita, algo raríssimo. Odeio essa maldita cidade de interior, sempre sonhei em morar na capital. Não que isso fizesse diferença, tenho só dezesseis e e ainda não mando na minha vida. E desorganizado do jeito que eu sou, acho que nunca vou mandar. A propósito meu nome é Carlos. E isso não faz diferença nenhuma na minha história.

É claro, foi tudo por conta de uma garota. Seu nome não interessa. Só o que interessava era os olhos. Quando eu falava com ela, os olhos dela brilhavam e seus músculos se contorciam em um sorriso divino, perfeito. Nada mais interessava se não fossem aquelas duas pérolas castanhas que me fitavam.

Eu conhecia ela a bastante tempo, mas nunca foi mais que uma daquelas amizades simples, onde nenhum é melhor amigo do outro e nenhum dos dois se importam com isso. Tudo mudou em uma festa, de uma amiga em comum nossa. Não preciso entrar em detalhes, mas não, nós não ficamos. Na verdade ela nunca soube o quanto eu gostava dela.

Eu só sei que depois daquele dia, aqueles olhos começaram a me perseguir. A simples menção do nome dela já me dava calafrios e olhar para uma foto dela, pior ainda. Mas conversando com ela nada disso acontecia. Soava tudo tão natural e era isso que eu tanto amava nela. Ela não era daquelas pessoas extremamente melosas na internet ou no telefone, e frias ao vivo. Só a sua presença emanava um calor natural, o que contrastava com sua pele clara.

E hoje eu estou aqui, preso por um amor que eu mesmo fomentei e cheio de dúvidas. Por mais que eu me ache pouco pra ela, sempre existe a pequena possibilidade de ter acontecido. Mas eu nunca falei com ela. E agora o fato deu estar de férias me ajuda a me manter preso nesse quarto, que antes era um refúgio, agora é uma prisão. Meus pais obviamente estão viajando, acreditando nas mentiras que eu conto no telefone. Não me importo em mentir. Só me importo com ela.

Ela vai viajar hoje pra praia. Fiquei sabendo por intermédio de amigos meus antes de me trancar aqui. Se eu não me engano ela vai pegar o ônibus das 22:40. São 21:00 agora. Ela mora longe e eu não tenho como chegar até a casa dela.

Droga, por que você foi fazer isso comigo?

Por que você foi existir, só pra me torturar?

Não.

Eu não mereço isso. Nem ela merece o que eu tô falando.

Chega de alto-tortura. O tempo das dúvidas acabou.

Eu tenho 01:40 para atravessar a cidade a pé. E farei isso, nem que seja para ouvir a sua risada, nem que seja para ver os seus olhos perolados. Nem que seja pra ver a terrível cara de reprovação dela quando eu disse a verdade.

Eu farei isso por ela. Por que só ela me move hoje.

(continua. Adios e comemorem antis)


Problema #1 - Guerra dos Sexos

Posted: segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
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Essa é clássica. Achar uma mulher que considere todos os homens perfeitos e um homem que não tenha nenhuma piada sobre mulheres é quase uma impossibilidade matemática.


Isso é plantado em nossas cabeças desde que somos crianças. Brincadeiras do tipo "meninos vs meninas" são comuns no jardim de infância por exemplo. Somos como soldados, treinados desde cedo a odiar o sexo oposto, e a ter vergonha de ter que conviver com ele.

Aí, chega a adolescencia. Os hormônios estouram, os dois começam a se atrair e as velhas rivalidas são postas de lado. E eu sou o papai noel.

NÃO. Aí está o problema. Apesar da atração, todos carregam aqueles velhos valores e preconceitos que são herdados desde a primeira infância. Já notaram como meninas que andam com meninos e vice-versa são mal-vistos, até pelos seus próprios pais?

E aqui no Brasil, uma sociedade de origens puritanas, isso de intensifica mais por uma praga que destroi a nossa sociedade: o machismo.

Claro, os tempos vem, o Brasil cresce, e as cosias mudam um pouco. Temos uma presidenta. Mulheres nunca foram tão bem pagas, entre outras coisas. Mas, toda a vez que você liga a sua tv na rede globo e vê uma sambista nua anunciando a temporada de carnaval, é o machismo imperando, mesmo que no subconsciente das pessoas.

E como todo o mal leva a outro mal, ainda temos uma praga moderna, o feminismo. Igualdade entre os sexos muitas vezes é vista como superioridade feminina em praticamente todos os casos. Nenhum dos dois contribui em absolutamente nada para a tão sonhada utopia da convivência pacífica entre os dois sexos.

Mulheres, vocês se julgam mais sábias e menos pueris que os homens. Deviam analisar que trancafiar seus instintos é mentir pra si mesmas. Assim como nós, vocês também sentem atração, e negar isso é uma mentira. Não podem perder a sensibilidade, o amor próprio, e o instinto que as faz tão belas. Mas tem que parar de se impor conceitos. Se as vezes os homens parecem mais felizes que vocês, é por culpa inteiramente de vocês.

Homens, nós temos um problema em demonstrar o que sentimos muito maior do que imaginamos. Nós mesmos nos impomos preconceitos, julgando aqueles que demonstram o que sentem como afeminados. Com certeza eles são, pois imitam o que há de melhor nas mulheres. Temos que parar de nos ver como concorrentes, e ser mais unidos, como as mulheres são. Sem necessariamente sempre ir no banheiro juntos.

A guerra dos sexos é, sem trocadilho, um problema constante. Mas o preconceito é um problema que dá pra resolver. Vamos tolerar o que somos e o que fazemos, assim, poderemos aprender melhor uns com o outros. Adios e comemorem antis


Oi.

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É chato, eu sei, mas não sei se consigo falar com alguém sem antes me apresentar.


Sim, falar. Não conheço vocês e vocês provavelmente não me conhecem. Mas vocês lêem o que eu escrevo e eu escrevo pra vocês. Se isso não é algum tipo de fala, se isso não nos torna interligados, conectados, eu não sei mais o que torna.

Meu nome é Mateus Coelho Martins de Albuquerque, sou estudante, resido em Santa Maria-RS, embora tenha nascido bem longe, em Fortaleza-CE.

Ao contrário do que muitos pensam, não atravessei o país por motivos clássicos, como pais militares. Minha mãe nasceu nesta cidade, e meu pai, por sua vez, nasceu em Recife-PE. Esse encotnro de cidades é algo constante em minha vida, o que me fez não aderir identidade nenhuma com nenhum estado. Sou cearense, filho de gaúcha com pernambucano, já morei no Rio Grande do Norte e na Bahia e hoje, sou gaúcho de coração. Não me importo com isso e considero todos os estados maravilhosos, embora isso pareça um tanto conveniente da minha parte.

Um fato curioso é que eu raramente uso meu nome. Creio que o meu sotaque e o meu repentino amor por minha terra me fez um ser facilmente identificável em terras do sul. Me chamam de Paraíba desde então, as vezes até por incentivo meu. Pouco me importo se parece ofensivo, pois creio que no fim, todos precisam criar uma imagem em torno de sí próprios. Assumi o manto desse apelido até com certo orgulho, e hoje, sou mais conhecido por ele do que pelo meu próprio nome.

Para finalizar, o nome do blog foi uma ideia repentina, uma metalinguagem com o gosto ácido da irônia. Afinal, conseguir um bom nome pra blogs é e sempre será um problema para todos.

Tenho twitter, @paraibasoueu. Sigam a vontade.

Torço pro Sport Recife, falo demais, amo demais e tenho medo de escadas. Adios e comemorem antis.