Crônicas do Paraíba #4 - Anjo Caído (pt. 2)

Posted: terça-feira, 22 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
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Não acredito nisso.


Marcus. O bonito. O inteligente. O invencível.

O morto.

Não pelo fato deu já ter ficado com ele, mas ele era bem amigo meu. Do tipo de ir almoçar em minha casa e vice-versa. Estava chocada, impressionada.

O telefone toca. É a Thânia, uma grande amiga minha, de infância. Nos conhecemos desde o maternal. Ela sempre estranhou o fato deu só ficar com guris mais velhos, como o Marcus por exemplo. Mas também era muito amiga dele. Quem não queria ser?

-Tu...viu o jornal? - disse ela em seu português coloquial.
- sim... chocada até agora.
-Sabe o Régis?
-Aquele que era o melhor amigo dele?
-Sim, tá em estado de choque, mas conseguiu me ligar. O enterro é amanhã. Vamos?

Claro que eu fui não é. Tive que ir.

Funeráis são momentos tensos em qualquer situação. Mas são ainda mais tensos se você não é membro da família. Você acompanha toda a dor e sofrimento da família da vítima, sem poder fazer muito para consolá-los, afinal você não tem nada haver com aquilo, pelo menos não de acordo com protocolos. Não sou escrava das aparências, mas protocolos tornam nossa vida mais fácil de lidar. E no fim, facilidade é o que todos querem.

Horas foram se passando. É impressionante como essas cosias passam mais rápido quando é alguém mais importante pra você. Nesse caso, é uma espécie de ex-melhor amigo. Um guri mais velho que eu fiquei, ficou rico e poderoso e nós nunca mais nos falamos. Isso.

Uma tia esquisitona dele se aproxima de nós dois. Já tinha ouvido falar dela. Drogada, várias vezes tinha passado por reabilitações. Era bem mais nova que a mãe do Marcus, tinha apenas uns 5 anos de diferença em relação a ele. Ela se aproximou de nós duas. Fiquei morta de medo, mas a curiosidade de Thânia venceu o meu anseio.

-Que horror, que horror...
-É mesmo terrível. -falou a intrometida Thânia.
-A morte? Não isso não é nada...o pior foi como mataram.
-Soube das...facadas - e baixou a voz para dizer a última palavra.
-Isso também não foi nada.

Agora até eu me aproximei curiosa.

-O pior foi o bilhete.
-Bilhete? Que bilhete?
-Vocês não viram os jornais de hoje? Só a notinha de ontem?

As duas responderam em negativa. O clima ia ficando cada vez mais tenso.

-O corpo foi encontrado desnudo, coberto de sangue pelo esfaqueamento. Em baixo tinha apenas uma folha de papel, com uma palavra escrita.
-E que...que palavra era essa?
-A palavra era "Lúcifer".

Aquela mulher falava tudo aquilo com um certo prazer doentio. Isso estava me enojando. Tive que sair dali.

Pesquisando na Internet, nos melhores sites de notícia do país, pude notar que ela estava certa. Realmente o bilhete havia sido encontrado. A imprensa, inclusive, citava esse como o possível pseudônimo do assassino.

Pessoas normais desligariam o PC. Ficariam tensas com a situação, mas uma hora passaria. A folha de papel representaria apenas um sinal de um crime hediondo. E só.

Mas eu não estava no meu estado normal. Um frio arrepiava minha nuca. Entrei em uma famosa enciclopédia virtual. Digitei "Lúcifer".

E a resposta me assustou.

"Segundo a Igreja católica, Lúcifer era o mais forte e o mais belo de todos os Querubins. Então, Deus lhe deu uma posição de destaque entre todos os seus auxiliares. Segundo a mesma, ele se tornou orgulhoso de seu poder, que não aceitava servir a uma criação de Deus, "O Homem", e revoltou-se contra Deus. O Arcanjo Miguel liderou as hostes de Deus na luta contra Lúcifer e suas legiões de anjos revoltosos; já os anjos leais a Deus o derrotaram e o expulsaram do céu, juntamente com seus seguidores. Desde então, o mundo vive esta guerra eterna entre Deus e o Diabo; de seu lado Lúcifer e suas legiões tentam corromper o homem; do outro lado Deus, os anjos, arcanjos, querubins e Santos travam batalhas diárias contra as forças de Lúcifer."


Lúcifer era um anjo bom. Se tornou mal e foi expulso por Miguel, se tornando um anjo caído.

Só isso me bastava. Miguel era um católico fervoroso, conhecia essa história de cor e salteado. Seu lado bom, seu lado angelical morreu, e ele renegou o seu nome, assumindo um que combinasse mais com os planos que ele podia estar bolando a meses, anos.

Miguel era o assassino. Miguel era Lúcifer.

E eu não estava mais a salvo.

(continua. adios e comemorem antis)


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