Interior.

Posted: segunda-feira, 31 de dezembro de 2012 by Paraíba in
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Entro, a procura da solução de todas as mazelas, todas as mortes.
(Mas onde me achava profundo, senti-me raso, litossolo)
[De final facilmente encontrável. Decifrável. Simplista.]
{Dos batimentos cardíacos, da sístole do ser, achei um buraco fundo},
([{E de tanto cavar, contemplei as camadas e enxerguei-me pleno}]).

A capa do livro.

Posted: domingo, 9 de dezembro de 2012 by Paraíba in
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A capa do livro quer me dizer algo.
Um grito, um sussurro,
Um apelo, um murro.
Mas para mim só vem o urro.

Pequeno poema mundanista.

Posted: segunda-feira, 29 de outubro de 2012 by Paraíba in
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Quando escrevi, um crítico literário,
Destes que vivem do passado,
Chegou para mim e disse:
-Vai gauche, ser Carlos na vida!

A vida só é possível,
Se ela é copiada.

Churros com coca,
Churros com coca,
Churros com coca,
Churros com coca,
O que é isso meu poeta?

É o mundo sem razão!

Pensem nos escritores,
Pobres coitados!
Pensem nas suas mulheres,
Ingratas, mal-amadas.
Mas oh, não se esqueçam
Que do riso, fez-se o pranto.
E o poema, posto que é chama,
Ficou eterno em sua mesmice.

Elétrons.

Posted: sexta-feira, 19 de outubro de 2012 by Paraíba in
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A luz do poste está palpitando lá fora.
Uma batida por segunda, que nem meu coração.
Do escuro sensual, fez-se o infarto.
Do rompimento, o miocárdio.

Transcendem elétrons, transcendem emoções,
Só não transcende aquilo que fica.
A massa putrefata pelo eletrochoque.
O eletricista estatelado na calcada.

Havemos de vencer a carne.
Ser o Homem sem osso
Sem homem, sem tudo.

Andar, abraçados rumo ao abismo
Com o poste telefônico de minha rua
palpitando lá fora.

Auto falante quebrado.

Posted: domingo, 7 de outubro de 2012 by Paraíba in
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Deitado aqui nesse
Colchão de molas em hotel barato,
Por este paguei apenas alguns cruzeiros
Por uma noite mal dormida.

Contemplo tudo o que pode ser contemplado.
A infiltração nojenta que vem do banheiro,
O rato que rói a roupa, não a do rei,
Mas a minha.

A aliança de bronze que aperta o meu dedo.

Gostávamos do bronze.
Sempre fugimos do clichê
Permeado de prata e ouro.
Fugir só por fugir.
Correr só por correr.
Qual a graça da paixão
Se nem se pode ser diferente?

E toda a vez que olho esta aliança,
Não importa onde esteja,
Lembro-me daquele sorriso encovado,
De dentes que ficavam puros e alvos,
Perante a pele mameluca.

O cabelo escorrido, liso e negro
Como a própria sombra que de mim brota.
A aliança pesa mil toneladas e aperta.
Aperta o meu anular em memórias,
Aperta a aorta, a coisa morta,
Meu coração.

Aperta por que lembra,
Há uma noite, antes do hotel, antes do rato.

A noite em que eu a matei.

Nostalgia.

Posted: sábado, 29 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Servi à infiel brincadeira de pique-esconde e
Nessa infância profunda, não me encontrei.
Olhei os retratos, tão foscos, tão francos
Mas só havia registros em cartório.
Coisa velha.
Coisa morta.

Saindo de fininho, ganhei este jogo, mas nada
Nada valeu.
Não ganhei meus direitos.
Nada foi bem-feito.
Só achei escuridão.

E nas adjacências da vida, tirei uma foto
Para durar alguns muitos anos, ou só
Alguns muitos amores.
A borda da moldura era prateada
Pois não quero o topo do pódio.

A queda me faria sumir na velhice,
E estou cansado de usar máquinas modernas.
Cheias de flashs. Cheias de zoom.
Cansado demais para me achar de novo.

Divulgando cultura...

Posted: quinta-feira, 27 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Orgulho de viver na cidade cultura do Rio Grande! Traga seu livro e vamos, juntos, fazer um Brasil mais leitor.

Canibal de mim.

Posted: quinta-feira, 20 de setembro de 2012 by Paraíba in
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O título não é à toa
Com todo o perdão da metalinguagem
Sinto o beliscar gélido, racional,
De minha boca a me morder.
Gelo. Razão.
Ponto.

Tenho sim, uma métrica irreal
Querendo explodir feroz do meu peito
Destruir minha carne.
Verbalizar minha tristeza.

Não quero, muito
Ser o boticário ilegal, desregular
Que envenena os anseios dos clientes.
Serei, eternamente, meu próprio consorte
Esperando a viuvez.
Vestindo o negro do luto enquanto rio
De meu próprio corpo putrefato.

Eu que já sonhei o sonho do futuro,
Já experimentei os prazeres do mar,
E já tirei a felicidade da cartola,
Hoje sofro com o realismo que toma conta
De todo o meu corpo fórmico
A devorar meu tecido conjuntivo.

Aqui, nessa câmara mortuária
Onde violo todos os meus parentes
Nesse suicídio incestuoso
Que só me leva a um final.

Final, após o baixar das cortinas
Essa amnésia coletiva
Há de comer a plateia imunda
Que eu, por muito tempo, lutei.

E quando o último tomate disparar no palco,
Quando o rubro sangue dele escorrer,
Não terão, jamais, me matado,
Pois eu mesmo me devorei.

Sonetear.

Posted: quarta-feira, 19 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Passo sonhando com o soneto perfeito
Onde não erraria forma nem rima
Onde o moderno não é acima
Onde o certo seria dito e feito.

Sonho com o fim da ciência
Onde a morte é o Deus de todos os povos
Pois só estrangulando a vil sapiência
Refletir-nos-íamos novos.

Por mais que os novos possam se irritar
Com esse novo modo de sonetear
Lembrem dos antigos

E esqueçam tudo o que foi falado
Pois os antigos, meus amigos
Foram os que mataram a forma, a rima e a crença.

Sem cor.

Posted: sexta-feira, 14 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Os beijos da cegueira são os beijos da verdade.
É deitar-se no campo disforme do rompimento.
Gritos ocos, tão cheio de eco.
Vão contra a forma, a rima
A menina.
O tema.

A fé que não pode ser vista, só cheirada.
Um cheiro atômico de meias palavras
farejadas pelo cão guia
que vê sem cores, sem sabores,
a religião do cego.

A fé do ventre macio e escuro
não tem o interior róseo da mulata
mas tem a ignorância sábia
do verbo acreditar.

É não ver, para crer.

Cancão da quase morte.

Posted: domingo, 9 de setembro de 2012 by Paraíba in
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O tempo silenciou a minha revolução,
Tirou a pólvora do meu rifle,
Calor o meu discurso.

Tenho em mim um Bento Ivo
Louco por berrar até o saltar das veias.
Mas não salta. Não berra.
Nos anos 2000.

Amarelo pisca nos olhos do robô
Engrenagens giram ao óleo natural
Lustram a máquina, lustram o futuro.

Só não lustram a vida.

Bonita é esta retrospectiva
Esta era dos livros de história,
Onde mesmo os erros dos brutos
Ficam belos aos olhos nostálgicos.

Acabou-se o complexo de vira lata.
Reinou o complexo geriátrico.

Quero a revolução agitada.
A revolução do celular.
A revolução sem antiquário nem móvel antigo.

A revolução musicada.

A revolução que não toma antidepressivos
Aos treze anos de idade.

Queria ter letra bonita.

Posted: sexta-feira, 7 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Queria pintar letra bonita
Mas não consigo fazê-la
Minhas moedas de ouro não a compram
Nem minha liberdade, nem minha lealdade.

Tentei até moedas de prata
Mas elas só conseguem comprar traidores.

Queria ter letra bonita
Para entender este poema
De que vale o que e real
Se o real não for compreendido?

Afinal, é real o que se entende
Ou é real o que existe?

As cartas.

Posted: domingo, 2 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Tu que desfilas sob os holofotes
de peito aberto, vento no abdome.
Mas tu não és livre.

Não farão estátuas para ti,
nem darás teu nome à cidades,
que hão de ser saqueadas
pelos bandidos de terno.

Só te sobrarão as cartas,
que receberás cada vez menos
na medida que envelheces.

E também os cheques perderão os fundos.
Serão o fim do teu poço infinito.

E quando chorares lágrimas sinceras
Nas cartas de amor falso,
lembrarás do passado, tão errado.

Lembrarás que nada foi.

Toda a timidez será julgada.

Posted: terça-feira, 28 de agosto de 2012 by Paraíba in
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 Toda a timidez será julgada
Todo o provérbio será passado
Todo o passado será presente
Todo o presente será depois.

Toda a caridade será coloquial
Todo o coloquial será português
Todo o português será Portugal
Quando toda a Europa queimar doente.

Todo o dadaísmo será banalidade
Toda a banalidade será revolução
Todo o burguês será revolução
Toda a tristeza será revolução.

Todas as estrofes serão quadras
Todas as regras serão parnasianas
Todo o Parnasús será grego
Pois o Parnasús Brasileiro será feroz.

Toda a tuberculose será Bandeira
Toda a bandeira deve ser saudada
Toda a saudação vira juramento
E todos os juramentos serão quebrados.

Todo o subjetivo será entendido
Usando a linguagem dos vencedores
Todo o objetivo morre subjetivo
E será guardado no arquivo do depois.

Toda a impressão será julgamento
E toda a pena no fim é morte
Toda a morte nada será
Pois tem no não ter o seu eu final.

Todo o psicodélico será ignorante
E toda a ignorância será genial
Todo o arco-íris será negro
Pois o que é colorido é psicodélico.

Toda a condenação será cancelada
Pois o todo quando é todo não é nada
A amplitude do existir nada significa
Pois no fim todas as regras são infelizes.