Nostalgia.

Posted: sábado, 29 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Servi à infiel brincadeira de pique-esconde e
Nessa infância profunda, não me encontrei.
Olhei os retratos, tão foscos, tão francos
Mas só havia registros em cartório.
Coisa velha.
Coisa morta.

Saindo de fininho, ganhei este jogo, mas nada
Nada valeu.
Não ganhei meus direitos.
Nada foi bem-feito.
Só achei escuridão.

E nas adjacências da vida, tirei uma foto
Para durar alguns muitos anos, ou só
Alguns muitos amores.
A borda da moldura era prateada
Pois não quero o topo do pódio.

A queda me faria sumir na velhice,
E estou cansado de usar máquinas modernas.
Cheias de flashs. Cheias de zoom.
Cansado demais para me achar de novo.

Divulgando cultura...

Posted: quinta-feira, 27 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Orgulho de viver na cidade cultura do Rio Grande! Traga seu livro e vamos, juntos, fazer um Brasil mais leitor.

Canibal de mim.

Posted: quinta-feira, 20 de setembro de 2012 by Paraíba in
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O título não é à toa
Com todo o perdão da metalinguagem
Sinto o beliscar gélido, racional,
De minha boca a me morder.
Gelo. Razão.
Ponto.

Tenho sim, uma métrica irreal
Querendo explodir feroz do meu peito
Destruir minha carne.
Verbalizar minha tristeza.

Não quero, muito
Ser o boticário ilegal, desregular
Que envenena os anseios dos clientes.
Serei, eternamente, meu próprio consorte
Esperando a viuvez.
Vestindo o negro do luto enquanto rio
De meu próprio corpo putrefato.

Eu que já sonhei o sonho do futuro,
Já experimentei os prazeres do mar,
E já tirei a felicidade da cartola,
Hoje sofro com o realismo que toma conta
De todo o meu corpo fórmico
A devorar meu tecido conjuntivo.

Aqui, nessa câmara mortuária
Onde violo todos os meus parentes
Nesse suicídio incestuoso
Que só me leva a um final.

Final, após o baixar das cortinas
Essa amnésia coletiva
Há de comer a plateia imunda
Que eu, por muito tempo, lutei.

E quando o último tomate disparar no palco,
Quando o rubro sangue dele escorrer,
Não terão, jamais, me matado,
Pois eu mesmo me devorei.

Sonetear.

Posted: quarta-feira, 19 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Passo sonhando com o soneto perfeito
Onde não erraria forma nem rima
Onde o moderno não é acima
Onde o certo seria dito e feito.

Sonho com o fim da ciência
Onde a morte é o Deus de todos os povos
Pois só estrangulando a vil sapiência
Refletir-nos-íamos novos.

Por mais que os novos possam se irritar
Com esse novo modo de sonetear
Lembrem dos antigos

E esqueçam tudo o que foi falado
Pois os antigos, meus amigos
Foram os que mataram a forma, a rima e a crença.

Sem cor.

Posted: sexta-feira, 14 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Os beijos da cegueira são os beijos da verdade.
É deitar-se no campo disforme do rompimento.
Gritos ocos, tão cheio de eco.
Vão contra a forma, a rima
A menina.
O tema.

A fé que não pode ser vista, só cheirada.
Um cheiro atômico de meias palavras
farejadas pelo cão guia
que vê sem cores, sem sabores,
a religião do cego.

A fé do ventre macio e escuro
não tem o interior róseo da mulata
mas tem a ignorância sábia
do verbo acreditar.

É não ver, para crer.

Cancão da quase morte.

Posted: domingo, 9 de setembro de 2012 by Paraíba in
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O tempo silenciou a minha revolução,
Tirou a pólvora do meu rifle,
Calor o meu discurso.

Tenho em mim um Bento Ivo
Louco por berrar até o saltar das veias.
Mas não salta. Não berra.
Nos anos 2000.

Amarelo pisca nos olhos do robô
Engrenagens giram ao óleo natural
Lustram a máquina, lustram o futuro.

Só não lustram a vida.

Bonita é esta retrospectiva
Esta era dos livros de história,
Onde mesmo os erros dos brutos
Ficam belos aos olhos nostálgicos.

Acabou-se o complexo de vira lata.
Reinou o complexo geriátrico.

Quero a revolução agitada.
A revolução do celular.
A revolução sem antiquário nem móvel antigo.

A revolução musicada.

A revolução que não toma antidepressivos
Aos treze anos de idade.

Queria ter letra bonita.

Posted: sexta-feira, 7 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Queria pintar letra bonita
Mas não consigo fazê-la
Minhas moedas de ouro não a compram
Nem minha liberdade, nem minha lealdade.

Tentei até moedas de prata
Mas elas só conseguem comprar traidores.

Queria ter letra bonita
Para entender este poema
De que vale o que e real
Se o real não for compreendido?

Afinal, é real o que se entende
Ou é real o que existe?

As cartas.

Posted: domingo, 2 de setembro de 2012 by Paraíba in
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Tu que desfilas sob os holofotes
de peito aberto, vento no abdome.
Mas tu não és livre.

Não farão estátuas para ti,
nem darás teu nome à cidades,
que hão de ser saqueadas
pelos bandidos de terno.

Só te sobrarão as cartas,
que receberás cada vez menos
na medida que envelheces.

E também os cheques perderão os fundos.
Serão o fim do teu poço infinito.

E quando chorares lágrimas sinceras
Nas cartas de amor falso,
lembrarás do passado, tão errado.

Lembrarás que nada foi.