Texto de amor.

Posted: domingo, 14 de agosto de 2011 by Paraíba in
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Esta pode ser a primeira linha de um texto de amor.

De que adianta escrever, sem sucesso? De que adianta escrever, sem reconhecimento?

Vou mesmo é escrever sobre amor. Inventar uma amante imaginária e jurar tudo o que posso pra ela. Usar de todos os recursos linguisticos repetitivamente apenas para dizer "Eu te amo".

Vou mesmo é escrever sobre amor. Vender milhões com textos dos mais variados gêneros para pessoas sozinhas que querem usar de redes sociais para retransmitir minha literatura.

Vou mesmo é escrever sobre amor. Por que todos os outros assuntos já perderam a graça.

Isso mesmo, ser escritor, blogueiro e afins hoje se tornou uma grife. Escrevemos sobre o que as pessoas querem ler. No auge dos anos 60, início real da adolescência, textos sobre fantasia faziam sucesso, pois afastavam as pessoas do mundo belicoso em que viviam.

A bola da vez é o amor. Destrinchar melosamente tudo sobre as relações humanas. Ser copiado por diversas pessoas e considerar isso uma glória. Será que o mundo está tão afastado, todo mundo está tão fútil, que nós precisamos tanto do amor na arte?

Escritores amorosos fazem parte, praticamente, de um grupo de elite. Se você escreve, é fracassado e está perdendo seu tempo. Mas se escreve sobre amor, é uma pessoa sensível que entende o mundo a sua volta.

Já virou uma doença. A mediocridade sendo disfarçada pela melosidade. Cadê Kafka, Douglas Adams e afins? Cadê os grandes mestres da acidez, os reis da irônia, aqueles que nos faziam rir, chorar e pensar na nossa inutilidade com utilidade?

Estes se foram. Não existe espaço mais para Machado de Assis. Este foi morto, e, de seu pó, nada mais sai de útil.

O que as pessoas buscam nos textos sobre amor é o que elas buscavam nas novelas antigamente. Uma história de aventura sem aventura. Uma grande obra com vários núcleos omitidos, onde só sobre o final feliz.

A comunicação atingiu ares inimagináveis. As pessoas estão viciadas nisso. Elas precisam twittar a cada 10 minutos no mínimo ou morrerão. Elas precisam de seus computadores, de seus celulares. Precisam falar pra alguém algo que pensam, ou, até mesmo, falar alguma coisa sem sentido.

A literatura amorosa compensa isso. Se você não tem o que fazer, entre no site de algum escritor de segunda linha e pegue uma frase dele. Por mais diferente que seja a sua situação, as pessoas nem vão notar.

Eles parecem, na verdade, com horóscopos. Não importa qual seja o seu signo, a mensagem sempre vai funcionar pra você. Se eu invertesse a mensagem, você nem perceberia.

Esta universalidade me irrita. Gosto do particular, do não mundano, da exceção. Gosto daquilo que realmente parece ter sido feito por mim, e não um genérico que pode ser feito para qualquer um.

Consuma. Leia. Poste. Tweete. Ame. Odeie. Só que faça você. Não faça uso de genéricos, por que eles sempre podem dar indigestão.

Esta linha poderia encerrar um texto de amor. Mas eu sempre preferi o amargo ao doce.