Crônicas do Paraíba #2 - Fim da linha. (final)

Posted: terça-feira, 15 de fevereiro de 2011 by Paraíba in Marcadores:
0


Bagueteria Árabe.


Baguete não era francês?

Tá, dane-se, já passei por ela mesmo.

A cidade fede, tudo fede. Aquele mendigo fede, aquele barzinho fede, aquela dona de casa levando sacolas de super-mercado fede. Se duvidar, até eu estou fedendo.

Tenho que me concentrar, existem coisas pra fazer. Preciso chegar rápido na casa dela, e se eu demorar mais um pouco ela já terá saído. Preciso contar tudo para ela, por que senão tudo terá sido em vão.

Fico imaginando se eu perder. Se ela for pra praia antes de eu contar, serão bem uns 15 dias de agonia trancado no meu quarto de novo. Nesse meio tempo a mãe volta e a tortura será grande. Sem falara que até lá eu já terei perdido toda a minha coragem impulsiva que eu ganhei hoje.

Quanto mais eu saio do centro da cidade, mais tudo engrossa. O povo vai ganhando feições mais rudes, as casas vão se tornando mais feias, decadentes, todo o glamour (falso, por que pra mim nada nessa cidade é magnífico) do centro vai se tornando a dura realidade da periferia.

Nunca fiz o tipo de burguês metido, mas carrego preconceitos de sangue inegáveis. Estudo em colégio particular, meus pais tem bons empregos e tenho mais ou menos tudo o que quero. O mais estranho é olhar nesses bairros as pessoas se divertindo, brincando e...amando.

Eu daria toda a minha vida de luxos para te-la. Daria tudo, daria o mundo. Não é exagero, nunca fui tão obcecado por nada nessa vida como por ela. Mas o que eu posso fazer? Ela é mais bonita que eu. Mais inteligente que eu. Tudo melhor que eu.

Se isso fosse uma comédia romântica, tudo acabaria bem. Acho que o Ben Stiller me interpretaria e ela seria a Sandra Bullock. O final seria feliz com alguma piadinha sem graça nos pós-créditos. Mas isso é vida real. Vida real nem sempre acaba bem e nós todos temos que nos conformar com isso algum dia.

Estou chegando perto. Ela mora em uma estrada, no limite da cidade. Olho no relógio. Estou em cima da hora. Cheguei.

Meu Deus.

Ela está entrando no carro do pai, com uma amiga. O carro é um GMC vermelho, gigantesco, típico de fazendeiros grandes. Como ela é linda. Eu fico segundos, parecem séculos, observando o leve balançar de seus cabelos, o brilho de sua face perolada contrastando a lua. A amiga dela, uma guria gordinha e engraçada, acaba de contar uma piada. Isso me hipnotizou. A risada dela, o leve contrair elegante de músculos que revelam um sorriso. A mulher perfeita. A minha mulher. A mulher que eu amo.

Eu grito para chamar. Ela me olha surpresa, mas sem demonstrar desprezo por isso. A amiga que já estava no carro, sai correndo para ver o acontecimento. O pai aparentemente ainda não desceu do apartamento, pois ninguém saiu a parte reservada para motoristas do carro.

- Oi Cá...o que foi? Nós temos que sair agora, posso ajudar?
-É que...

Travei. Droga. Odeio quando isso acontece.

-Que?

Ela tá impaciente, o que eu faço? Não, não posso ter vindo até aqui, conseguido sair de casa pra não fazer nada. Não posso me dar a esse luxo.

-Eu sempre quis dizer isso, mas nunca reuni forças. Eu te amo. Eu te amo mais que tudo. Eu vim apé do centro até aqui só pra te dizer isso. Não saio de casa a séculos só pensando em você. Você pode estar tensa agora, eu sei, mas a verdade é que isso não importa, pro que agora você sabe. E eu estou livre.

Inesperadamente, ela me beijou. Não quero gastar muitas linhas com esse momento. Foi mágico, indescritível, irreal. Ela foi embora depois, sem promessas, com aquele beijo pra selar o fim de tudo. Aí ela se foi, me deixando ali, divagando sobre como a vida era bonita.

Voltei pra casa.

A cidade parece mais bonita agora.

FIM

Como seria bom se as coisas fossem simples assim.

Mas não são. Na vida, temos que lembrar que os outros também valem e nem sempre são os nossos finais que são felizes. Aliás, nada é final, pois tudo pode se continuar.

A verdade é que ela me deu um beijo no rosto e falou:

-Depois a gente conversa amigo.

A cidade não esta mais bonita. Eu não estava mais feliz. E meus problemas ainda não acabaram. Mas eu estava livre, finalmente.

E ia conseguir me olhar no espelho de agora em diante.

FIM.
Adios e comemorem antis.

0 comentários: