Pequeno poema mundanista.

Posted: segunda-feira, 29 de outubro de 2012 by Paraíba in
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Quando escrevi, um crítico literário,
Destes que vivem do passado,
Chegou para mim e disse:
-Vai gauche, ser Carlos na vida!

A vida só é possível,
Se ela é copiada.

Churros com coca,
Churros com coca,
Churros com coca,
Churros com coca,
O que é isso meu poeta?

É o mundo sem razão!

Pensem nos escritores,
Pobres coitados!
Pensem nas suas mulheres,
Ingratas, mal-amadas.
Mas oh, não se esqueçam
Que do riso, fez-se o pranto.
E o poema, posto que é chama,
Ficou eterno em sua mesmice.

Elétrons.

Posted: sexta-feira, 19 de outubro de 2012 by Paraíba in
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A luz do poste está palpitando lá fora.
Uma batida por segunda, que nem meu coração.
Do escuro sensual, fez-se o infarto.
Do rompimento, o miocárdio.

Transcendem elétrons, transcendem emoções,
Só não transcende aquilo que fica.
A massa putrefata pelo eletrochoque.
O eletricista estatelado na calcada.

Havemos de vencer a carne.
Ser o Homem sem osso
Sem homem, sem tudo.

Andar, abraçados rumo ao abismo
Com o poste telefônico de minha rua
palpitando lá fora.

Auto falante quebrado.

Posted: domingo, 7 de outubro de 2012 by Paraíba in
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Deitado aqui nesse
Colchão de molas em hotel barato,
Por este paguei apenas alguns cruzeiros
Por uma noite mal dormida.

Contemplo tudo o que pode ser contemplado.
A infiltração nojenta que vem do banheiro,
O rato que rói a roupa, não a do rei,
Mas a minha.

A aliança de bronze que aperta o meu dedo.

Gostávamos do bronze.
Sempre fugimos do clichê
Permeado de prata e ouro.
Fugir só por fugir.
Correr só por correr.
Qual a graça da paixão
Se nem se pode ser diferente?

E toda a vez que olho esta aliança,
Não importa onde esteja,
Lembro-me daquele sorriso encovado,
De dentes que ficavam puros e alvos,
Perante a pele mameluca.

O cabelo escorrido, liso e negro
Como a própria sombra que de mim brota.
A aliança pesa mil toneladas e aperta.
Aperta o meu anular em memórias,
Aperta a aorta, a coisa morta,
Meu coração.

Aperta por que lembra,
Há uma noite, antes do hotel, antes do rato.

A noite em que eu a matei.