Canibal de mim.

Posted: quinta-feira, 20 de setembro de 2012 by Paraíba in
0



O título não é à toa
Com todo o perdão da metalinguagem
Sinto o beliscar gélido, racional,
De minha boca a me morder.
Gelo. Razão.
Ponto.

Tenho sim, uma métrica irreal
Querendo explodir feroz do meu peito
Destruir minha carne.
Verbalizar minha tristeza.

Não quero, muito
Ser o boticário ilegal, desregular
Que envenena os anseios dos clientes.
Serei, eternamente, meu próprio consorte
Esperando a viuvez.
Vestindo o negro do luto enquanto rio
De meu próprio corpo putrefato.

Eu que já sonhei o sonho do futuro,
Já experimentei os prazeres do mar,
E já tirei a felicidade da cartola,
Hoje sofro com o realismo que toma conta
De todo o meu corpo fórmico
A devorar meu tecido conjuntivo.

Aqui, nessa câmara mortuária
Onde violo todos os meus parentes
Nesse suicídio incestuoso
Que só me leva a um final.

Final, após o baixar das cortinas
Essa amnésia coletiva
Há de comer a plateia imunda
Que eu, por muito tempo, lutei.

E quando o último tomate disparar no palco,
Quando o rubro sangue dele escorrer,
Não terão, jamais, me matado,
Pois eu mesmo me devorei.

0 comentários: