Ampulheta
Posted: sexta-feira, 14 de junho de 2013 by Paraíba inEscavo meus ossos, minha alma
Sou um arqueólogo do próprio ser.
Tenho a necessidade, quase viciante,
De explorar, descobrir aspectos do eu.
E cada vez mais me decepciono com
As colunas dessa cidade (não eterna)
Que se desmanchou em meu espectro.
-Estou no passado.
Sou uma Pompéia, quebrando a minha essência.
Sou a atualização constante, a vontade de ser.
Sou o filho sem pai e o pai sem filho.
Sou o eterno mendigo de heranças.
Sou o eterno mendigo de herdeiros.
Sou o que diz: "Eu quero um legado! Eu quero! Eu quero!"
Sou também o que leu a morte dessa palavra, querer.
-Estou no presente.
Olho a minha janela e vejo carros voadores.
É o futuro sonhado, a arquitetura do que tivemos.
O futuro pertence ao passado. É fruto
Da imaginação fértil dos leitores, dos ouvintes,
Dos onanistas sociais.
O futuro é o caos. A destruição de
Todas as hipóteses, todos os estudos.
É a ciência de queimar teses.
-Estou no vazio.
"Amigos morrem,
as ruas morrem,
as casas morrem.
Os homens se amparam em retratos.
Ou no coração dos outros homens."
Do Gullar que tu clama tanto não gostar.
Nada mais a declarar.